2025/07/12

Timothy Martin Entre Nós

(pintura sem título)
 

Doce colheita

Entre folhas douradas
e murmúrios da videira,
surge ela
  —
com a graça serena dum entardecer antigo.

Vestida de vermelho como o vinho antes do tempo,
carrega uvas nas mãos
como quem segura segredos
doces, intensos, maduros.

Seus olhos,
meio voltados para quem a vê,
não perguntam, não respondem 

mas sabem.

O cabelo,
preso em espirais cuidadosas,
guarda promessas de outonos passados
e primaveras por vir.

O braço, adornado por uma folha viva,
é abraço entre o humano e o fruto,
entre a arte e o instante,
entre a lembrança e o agora.

Na parede cálida,
as sombras das uvas conversam com a luz,
 tudo ali parece eterno,
como se o tempo se tivesse rendido à beleza da pintura.

Convite Irrecusável 


Um sabor inusitado em meu seio cobiçado,

um olhar de ternura e sensualidade de laço.

Há gosto de doçura em dulcíssimo cacho,

fruto maduro, delicioso.  Vulgar, despacho.

Timothy seduz com seu olhar de pintor.


O convite implica respeito e delicadeza,

toda amabilidade com amável sutileza.

Aceitar inusitado paladar da boa união,

desfrutar da lealdade e da cumplicidade.

Timothy traduz seu olhar de pintor.


Recusar o superficial, tolo aproveitador

da colheita madura, doce, aromatizada.

Preço a se pagar é afinidade desejada,

sem multa, pela traição do belo amor.

Timothy induz seu olhar de pintor.


Vale a pena saber plantar em profusão,

a colheita será bela e encherá o coração.

Serão ambos, tanto provedor e colhedor

o elo de delícias no enlace de bom odor.

Timothy faz jus ao seu olhar de pintor.



Nossa sugestão musical :Fascinação- Elis Regina


🌙🌟

Vladimir Kush Entre Nós

~~Flor da Manhã~~

No coração do campo,
uma rosa se ergue,
não da terra,
vem da luz.

Cada pétala parece
carregar o sol recém-nascido,
como se o céu, cansado de voar,
tivesse escolhido florescer.

Há um casal abraçado
oculto na forma,
ou talvez revelado,
meio chama,
meio oração.

O rio os contempla
como se sempre tivesse
nascido para isso:
seguir sua beleza
até ao fim da paisagem.

Montanhas em silêncio,
árvores respirando quietude,
o tempo escorre
pela curva da manhã.

Ali, no meio de tudo.
 Uma flor,
 é corpo,
 é alma,
é amor.



Flor perdida no horizonte,

Quiçá à  mercê de desafios?

É  grande na sua fragilidade, 

Medrosa e destemida, desfila. 

Vladimir sobrepuja o visível.


Seu refúgio está num monte, 

Age além da sua dignidade.

Ela reluz no seio do deserto,

Não contida na formosura.

Vladimir sobrevoa o visível.


Ela admira, sutilmente,

A vida dos arvoredos.

Sente vontade de viver

Bem junto, numa festa.

Vladimir sobrepõe o visível.



🌹​🌹​🌹​

2025/07/05

Sophie Gengembre Anderson Entre Nós


Deitada entre véus, seu retiro sagrado,
lê a menina em voz silenciosa.
Cada página, um mundo encantado,
 fazendo do quarto espaço de prosa.

Dedos pequenos deslizam na história,
tateiam dragões, florestas, princesas,
 um riso contido — quase memória —
abre-se em flor com suas belezas.

A coberta verde esconde segredos,
de um tempo só dela, para guardar.
Não há impaciência, nem medos,
só o contentamento insiste em ficar.

O livro brilha como espelho antigo,
onde a realidade se curva à fantasia,
 cada ilustração fala-lhe ao ouvido,
com voz de sonho e terna melodia.

Oh, instante tão breve e tão vasto,
de olhos atentos, coração aberto…
A infância, esse barco sem mastro,
navega em silêncio por dentro do afeto.




Sophie descansa no dia já ido,

Livro aberto, repleto de histórias, 

Manifestação do interior curioso, 

Cheia de sonhos, devaneios belos.


Sophie folheia livro em causalidade,

Imaginar finais felizes de bondade.

O modo de estar no lazer formoso

É  aptidão a ser livre de banalidade. 


Sophie preenche todo ócio, fecundas

Maneiras de assimilar melhor o lido.

Repousa sem pretensões ambiciosas,

Delicioso momento de mansa ação.


Abastecida de cultura e aconchego, 

Faz em si, Sophie, grande chamego.

Dá  tempo a preencher o seu saber,

Não tem pressa de aprender a viver.



Nossa sugestão musical: Silêncio do meu Quarto-Núbia Lafayette

🌟🌟🌟