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Menina Tricotando-1874 |
Fios do Tempo
Na penumbra da tarde, em compasso,
a menina cria sonhos no seu regaço.
Nas mãos delicadas em ritmo constante,
vai tecendo o tempo com fio pulsante.
Veste simplesmente em tons outonais,
mostrando desvelo nos gestos banais.
O gato ao lado, repousa em sossego,
no chão de madeira, seu aconchego.
A sala murmura segredos passados,
o cesto transborda panos enlaçados.
Uma jarra de flores secas na mesa,
dá ao ambiente, nostalgia e beleza.
Cada ponto dado, um instante vivido,
na trama do dia, um sonho contido.
A agulha desliza, o tempo se enreda,
a vida, ela escreve em lã e em seda.
Gérard, com traços de luz e ternura,
fez do quotidiano a mais bela pintura.
No fio da sua arte teceu imaginação,
bordando a vida, com alma e paixão.
Há um terno silêncio no recinto
Uma solidão enclausurada, sinto.
Onde estará Gérard bem-amado?
Sinto tanta falta dele ao meu lado.
A saudade invade
todo aposento.
Apenas uma toalha, uma moringa
Não fazem alarme, nem são coringa.
São utensílios banais, bem normais,
Pouco? Muito? Preciso de bem mais.
A saudade invade
todo aposento.
Meu aliado animal ouve-me no vazio,
Eu também não dou um pio, seu mio
Faz-se aliado no recanto tão solitário,
Teço silenciosa, cautelosa, amorosa.
A saudade invade
todo aposento.
Nego-me a ficar sofregamente ansiosa,
Lá fora, a vida me espreita, não rejeita
Minha dor tão só minha… avanço ponto
Por ponto, devagar, só vivendo doendo.
A saudade invade
todo aposento.
Sugestão musical: Meu Primeiro Amor- Roberta Miranda
🌿🍀🌿