
Retiro da Alma
Há um lugar onde o mundo desacelera,
onde a luz pousa macia nas paredes ocres
e a sombra das folhas dança
como se soubesse segredos que ninguém diz.
Uma porta entreaberta convida o silêncio,
não para entrar — mas para permanecer.
Ali, cada flor cresce com ternura,
cada árvore guarda um nome esquecido.
O tempo ali não corre,
apenas respira.
Na parede, o vermelho das pimentas
fala da força discreta das pequenas coisas.
E o vaso, imóvel,
acolhe o instante como quem acolhe um filho.
Essa casa não é só uma casa —
é abrigo de memórias que não vivemos
mas, ao olhá-la, lembramos.
A pintura de Sharon não retrata um lugar,
expõe um sentimento que mora dentro de nós
e, por instantes,
nos convida a voltar.

Entrada Soturna
Há um mistério do outro lado,
Uma porta embaçada, fechado
Caminho tão desejado, sonhado
Misto de coragem, medo danado.
Passagem secreta, Sharon, quiçá?
Possibilidade de vida nova, será?
Trabalho, ascese ou fortificação
Coração em ação, em mutirão.
A claridade virá, sei bem esperar
Com parcimônia, passo a galgar
Sem energia esbanjar, descortinar
Mundo novo sem receio, eu creio.
Do outro lado? Um novo percurso,
Um tanto, antes, em desuso, curso
Seguro sem sobressaltos aos saltos,
Caminhar na claridade, na bondade.

Nossa sugestão musical: Pedro Abrunhosa - Leva-me P'ra Casa com Carolina Deslandes (ao vivo no Porto)
💚💛💚