2024/08/04

FERNANDA DE CASTRO ENTRE NÓS


É Primavera! Alegria, Alegria!
Cantam aves ao nascer do dia.

Corações separados, acertam,
sonhos adormecidos, despertam.

É Primavera! Alegria, Alegria!
O perfume das flores contagia.

Palavras ao vento são lançadas,
espalhando poesias perfumadas.

É Primavera, Alegria, Alegria! Vivamo-la com fé, sabedoria.
"Mesmo cansadas, tristes, doridas, agarremos a vida, ela passa rápido,
tal como a Primavera."




Ah, que bela manhã de Primavera!


Ah, que bela manhã de Primavera!
Abram ao sol as portas, as janelas!
Cheira a café com leite, a sabonete,
a goivos, a sol novo, a vida nova!

A Rua canta!… sinos e pregões,
apitos e buzinas, vozes claras.
–”Gostas de mim?” — “Gosto de ti” — e o céu
cobre a Cidade com seu manto azul.

Ah, que bela manhã de Primavera!

Pousam no Tejo barcos e gaivotas,
com velas novas, belas asas novas.
Os eléctricos voam, transbordantes,
a tilintar, a rir nas campainhas,
e os automóveis, como borboletas,
circulam, tontos, nas ruas sonoras.

Ah, que bela manhã de primavera!

No Tejo, os vaporzinhos de Cacilhas
brincam aos barcos grandes, às viagens,
e o pequeno comboio vai e vem,
como um brinquedo de menino rico.
Confundem-se nas árvores, ao sol,
folhas e asas, pássaros e flores.
É festa em cada rua. Em cada casa,
um canário a cantar, uma cortina,
um craveiro florido na janela.

Despejaram-se armários e gavetas,
frasquinhos de perfume…Toda a gente
foi para a rua de vestido novo,
de fato novo, de gravata nova,
e tudo canta, a Rua é uma canção.

Ah, que bela manhã de Primavera!

–”Gostas de mim?” — é o tema da canção.
–”Gostas de mim?” — pergunta-lhe ele a ela.
–”Gostas de mim?” — pergunta à flor o vento
e a flor ao rouxinol… — “Gostas de mim?”
–”Gostas de mim?”, “Gostas de mim?”
Cheira a goivos, a sol, a vida nova…

Ah, que bela manhã de Primavera!


Fernanda de Castro




Vejo um arco-íris no lindo céu, 

Quanta beleza há ao meu léu!

Sol, lua, tantos bons cheiros, 

Luminosidade reluz em cachos.

Insisto em tentar me alegrar...

Perseverar, não só me lamentar.



Questiono-me incansavelmente, 

Haverei de conhecer a felicidade,

Alegria vai invadir suavemente 

Todos os poros da minha idade,

Nada vai me impedir de sonhar, 

Toda vida sem cor vai se acabar.



Hei de ver meus olhos brilharem,

Todos meus sentidos expandirem, 

Meu aroma será de delicado odor.

A paixão vai me despertar, acirrar

Sonhos e projetos sem desanimar,

O amor em meu coração reanimar. 



Sou feita de segredos bem secretos, 

Estão todos muito bem escondidos.

Tento me resguardar de todo cansaço,

Afinal sou de carne viva,  não de aço.

Tenho sonhos e risos bem guardados,

No passado, no  futuro, serão vividos.



Nossa sugestão musical: Amália Rodrigues - Primavera

Imagem: Pensador


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