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Agradecemos.
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O Grito - 1893 |
No céu flamejante, a dor ecoou,
um grito sem voz, o mundo calou.
A ponte sombria, o medo a correr,
um vulto curvado, horror a crescer.
Cenário chocante, cores ardentes,
Edvard o pintou em traços dolentes.
O medo é um eco, um céu a gritar,
no turvo infinito do eterno penar.
Ó sombra aflita bradando do além,
será tua angústia reflexo de alguém?
Ou somos no fundo na nossa ilusão,
um grito calado dentro da multidão.
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"Passarela em Flor" |
Passarela em Flor
Suave pintura a trilha em aguarela,
cada flor sussurra o nome do dia.
A luz escorre por entre a janela
do céu, a paisagem vira poesia.
Flor do campo, livre, sem medida,
nasce onde o vento decide ficar.
Não pede nada, só oferece vida,
onde cada cor vem nos abraçar.
A passarela em flor abre-se inteira,
não leva a um fim, apenas ao agora.
Caminho certo, sem qualquer barreira.
O perfume daquele instante o decora,
nesse tempo sem pressa ou fronteira.
Só existe silêncio, e a beleza, aflora.
"É JUNTO ÀS FLORES DO CAMPO QUE A BELEZA EM TODO SEU ESPLENDOR SE REFLETE NOS OLHOS ENCANTADOS DA VIDA."
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Íris no Jardim de Monet |
No Jardim de Monet
Entre íris dançando ao vento,
respiro um instante sem tempo,
o mundo em mim se refaz
desenhado em tons de lilás.
Na terra, a lida me chama,
sua cor me eleva, inflama.
Já não sou quem lavra o chão,
sou traço, semente, visão.
No jardim onde Monet pintava,
minha alma livre sonhava.
Em cada pincelada sentia,
a vida muito me daria.
Oh! flor rompendo o cansaço,
pintura embalando o espaço.
Teu silêncio me ensina a ver,
viver é florescer.
Sou mulher de mãos ofertadas,
ao tempo, às cores, às jornadas.
Nos campos que a arte me deu,
renasço, inteira, sou eu.
A cada livro, contamos com o Prefácio de um (a) amigo (a).
A Amiga que nos deu a honra de prefaciar nossa quinta obra foi a escritora e poeta Emília Simões incentivadora dos primeiros dos nossos poemas na parceria tão fecunda que já mantemos por mais de três anos, na alegria e nas dores nossas de cada dia.
O livro compila poemas publicados no blog e outros inéditos.
Publicamos além do Brasil, em Portugal, na Espanha e na Austrália.
A Amiga Certa
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(pintura sem título) |
Doce colheita
Entre folhas douradas
e murmúrios da videira,
surge ela —
com a graça serena dum entardecer antigo.
Vestida de vermelho como o vinho antes do tempo,
carrega uvas nas mãos
como quem segura segredos
doces, intensos, maduros.
Seus olhos,
meio voltados para quem a vê,
não perguntam, não respondem —
mas sabem.
O cabelo,
preso em espirais cuidadosas,
guarda promessas de outonos passados
e primaveras por vir.
O braço, adornado por uma folha viva,
é abraço entre o humano e o fruto,
entre a arte e o instante,
entre a lembrança e o agora.
Na parede cálida,
as sombras das uvas conversam com a luz,
tudo ali parece eterno,
como se o tempo se tivesse rendido à beleza da pintura.
Convite Irrecusável
Um sabor inusitado em meu seio cobiçado,
um olhar de ternura e sensualidade de laço.
Há gosto de doçura em dulcíssimo cacho,
fruto maduro, delicioso. Vulgar, despacho.
Timothy seduz com seu olhar de pintor.
O convite implica respeito e delicadeza,
toda amabilidade com amável sutileza.
Aceitar inusitado paladar da boa união,
desfrutar da lealdade e da cumplicidade.
Timothy traduz seu olhar de pintor.
Recusar o superficial, tolo aproveitador
da colheita madura, doce, aromatizada.
Preço a se pagar é afinidade desejada,
sem multa, pela traição do belo amor.
Timothy induz seu olhar de pintor.
Vale a pena saber plantar em profusão,
a colheita será bela e encherá o coração.
Serão ambos, tanto provedor e colhedor
o elo de delícias no enlace de bom odor.
Timothy faz jus ao seu olhar de pintor.
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~~Flor da Manhã~~ |
À Luz do Silêncio
No chão de mármore em etéreo encanto,
a mulher se entrega em doce meditação,
gesto brando, olhar com um leve pranto,
como se escutasse a voz do coração.
Manto azul-celeste em pregas delicadas,
desliza e envolve a sombra do perfil,
brilham as joias — lágrimas caladas —
na paz serena de um momento subtil.
Com mão sagrada, no lume se ilumina,
lanterna antiga, de metal silente,
o gesto lento, com calma quase divina,
recorda a prece de uma alma crente.
Com véu rosa no cabelo, ela se inclina,
como quem guarda um sonho no olhar;
ali, o tempo — que tudo destina —
parece um quadro pronto a eternizar.
Ó musa em luz, em sombra repousada,
pintada em cor, silêncio e devoção,
tua figura, de beleza encantada,
é verso vivo de pura contemplação.
Tem nas suas mãos uma máquina de tecer sonhos,
Senta-se bem acomodada, segura-a com carinhos.
Poblete delineia traços sutis em todos contornos.
Examina as possibilidades, repensar seus desafetos,
Não deseja ser impropérios nem alvo de tais atos.
Poblete delineia traços sutis em todos contornos.
Com calma, pausadamente, examina seu coração,
Requer prudência, discernimento e toda atenção.
Poblete delineia traços sutis em todos contornos.
Como mulher de senso, brio, prima pela boa ação,
Não deseja ser mais uma de pouca mentalização.
Poblete delineia traços sutis em todos contornos.
Deseja um sonho inusitado e com bom resultado,
Como prima pelo mundo todo sendo bem-amado.
Poblete delineia traços sutis em todos contornos.
Sonha, mulher de devaneios, não deixe amuado
Seu coração de princesa de príncipe destronado.
Poblete delineia traços sutis em todos contornos.
🌺🌸🌺
Sentada à beira do tempo com o livro pousado no colo, certas histórias às vezes, precisam ser deixadas de lado, o que importa não está nas palavras impressas, está nos olhos dele, do outro lado da janela, onde o mundo é real.
Sorriso tímido, flor na mão e esperança nos gestos, ele não diz muito, nem precisa. O que se passa entre eles é feito de pequenas pausas e de linguagem silenciosa. Um toque de dedos, um riso escondido, o calor do sol entrando pela fresta.
A casa parece conter a respiração, o casaco pendurado, o sapato no chão, a luz dourada filtrando o pó, toda ela é testemunha de algo raro: o exato momento em que o quotidiano se transforma em poesia.
Ela o escuta com o corpo inteiro, enquanto ele fala com o olhar. Juntos desenham uma cena que não se explica, só se sente: Amor, na sua forma mais pura, mais simples, mais bonita. Sem promessas grandiosas. Só a presença. Só o agora.
Ali, entre o dentro e o fora, entre o gesto e o olhar, o tempo para, e os dois, por um instante só deles, se tornam eternos.