2025/09/17

José Malhoa Entre Nós


O Fado-1910


O Fado

No quarto pobre, paredes gastas,
ecoam cordas, choram baixinho,
canta o homem, a alma arrasta,
a guitarra reflete o seu caminho.

Ela rendida, afasta o cansaço,
olhar perdido, a dor a seduz,
corpo inclinado sem embaraço,
vinda da sombra livre da luz.

Não há riqueza, não há vaidade,
só vinho, canto, vida sofrida,
 no fado existe toda a verdade,
da dor humana, nua, sentida.

Malhoa pintou com cores do povo,
tinta de lágrimas, drama, clamor,
o fado é eterno, antigo e novo,
pincel de mágoa, guitarra e amor.



Escutar toda a saudade do fado,

mesmo estando presente o amado.

Aliviar penas, ouvir dissabores,

eliminar decepções, malmequeres.


Cantar toda a dor da alma, criar

momento de ternura, incentivar.

Imbuir-se do espírito melancólico

sem cair num âmbito diabólico.


Escapar da rotina tão enfadonha,

Malhoa atenua a relação tristonha.

Avançam na alegria devagarzinho,

abolir a fatalidade do ser sozinho.


Ser fadista é dom sem desatino,

viver  a vida, aceitar o destino.

A profecia discreta, saudosista,

bom oráculo até o amor persista.



Nossa sugestão musical: João Villaret Fado Falado


✨🎶✨


2025/09/11

Steve Hanks Entre Nós

 

Nos degraus da tarde

Sento-me,
entre sombra e claridade,
o ferro trabalhado da escada
molda momentos vividos.

A rua dorme em silêncio,
banhada de sol morno,
cada tijolo guarda passos,
 já não ecoam.

No branco leve do meu vestido
 um rumor de brisa,
um pressentir de ausência,
um instante suspenso.

O corpo repousa,
 o olhar viaja…
longe, muito longe,
 talvez lá more a esperança.

Nos degraus da tarde,
a eternidade acontece
num só pensamento.




Em estado de desolação,  entrego meu coração

Ao Doador da vida plena.  Devaneio em emoção,

Não me sustento sem brio,  um dia, volto, rio,

Subo, alcanço o prumo, balanço, não me canso.


Esquecida de mim mesma, perdida em pensar,

Cabisbaixa,  sonhadora,  coração feito a amar. 

Quer de dia, quer de noite, sou esperança viva,

Luto com a sorte, tomo Norte,  Steve me aviva. 


Vez por outra cansada, isolada, vivências

Em aventuras pensadas, impensadas, sinais

De lutas internas, bruscas,  tão  necessárias,

No discernimento trabalhada,  virão notícias. 


Demoro-me na prudência cadenciada,  seria 

Um prenúncio de magia no ar, certa alegria 

A caminho dos meus passos cheios de dores?

Espero… sem pressa, eu alcançarei amores.



Nossa sugestão musical: MARIZA - Estranha Forma de Vida


🌿✨🌙

2025/09/07

Viktor Tsyganov Entre Nós

 

Reflexos d’Alma

Na mansa aurora a luz se faz canção,
dourando o bosque em névoa delicada,
 cada tronco possui uma oração calada,
reflexos dálma buscando inspiração.

O rio sereno espelha linda visão,
a paz do céu na face retratada,
a relva em flores veste a madrugada,
soprando ao vento um rasto de emoção.

Se o silêncio vivo se explicasse,
 a própria vida em véus se desvelasse
num gesto puro, etéreo, sem falhar.

Ao contemplar tão plácido cenário,
descobrimos um templo legendário,
onde a alma encontra o dom de escutar.



Reflexos d'Alma

Um inebriar de tênue luminosidade,
Entre flores, arvoredos em lealdade,
Desperta em mim uma nova aliança,
De fé, amor e grandiosa esperança.
Viktor vislumbra todos os reflexos.

Há luz no ser sonhador de bonança,
Uma claridade desperta benquerença.
Saber desfrutar da boa luminescência,
Entrever as frestas de salutar alegria.
Viktor captura todos os reflexos.

Há beleza no clarão por entre escuros,
A alma procura se enquadrar, obscuros
Elementos são retirados do meu viver,
Pouco a pouco, saio do meu anoitecer.
Viktor tonaliza todos os reflexos.

Busco reflexos da minha alma curiosa,
Procuro viver de forma toda formosa.
Os raios do descanso do sol no arrebol
Dão força ao meu coração em ebulição.
Viktor formaliza todos os reflexos.




 💛🌿✨

2025/08/31

Almada Negreiros Entre Nós

Maternidade-1985


Maternidade

Mãe — planeta redondo
girando na órbita dos braços.
Filho — cometa quieto
no ventre da hora.

O mundo lá fora é ruído,
dentro é linha, curva, cor.

Não há relógio,
há pulsar.
Não há chão,
há colo suspenso.

O traço não pinta:
abraça.
O abraço não guarda:
cria.

E no instante em que a tela respira,
o universo se resume
a dois corpos que inventam
o princípio de tudo.



Maternidade de Alma

Nada tão  grande tal amor materno,
Sobrepõe os dissabores sem término.
Uma força  gigantesca nasce num ser
Dotado de carinho a dar sem perecer.

Ser indefeso é  posto em seus braços, 
Incapaz de sobreviver sem cuidados.
É imensa a afeição da mulher ternura, 
Imensurável nos zelos, nada de usura.

Seres sobreviventes dos cuidados ternos
Serão  agradecidos eternamente, gratos,
Recordar-se-ão do início ao fim da vida, 
Em cada dia do seu viver,  da atuante lida.




Nossa sugestão musical: MARIZA - Mãe

💗💗💗


2025/08/21

Elly Liyana Ruslan Entre Nós


No véu de tintas lançadas ao vento,
um rosto enigmático, desatento.
Pálpebras sombrias, semblante sério,
a boca fechada clama mistério.

Palidez ferindo a pele, brisa cortante,
linhas dispersas, desejo distante.
Luz desbotada, sombra apagada,
gemido calado numa alma rasgada.

Fúria, silêncio, furacão contido,
mistério esculpido, olhar desprendido.
A tela reflete tormento na cor,
é tinta chorando num traço de dor.



Disfarce das Dores

Só se esboça, em riscos 

Com enigmáticos traços, 

Não se revela de todo,

Parcamente, sem denodo.


Em riscados disfarçados,

Insinuação de desgostos. 

Denota nostalgia dissimulada, 

Terá sido uma bem-amada?


Linhas são expressões, 

Revelam ou não emoções. 

Mulher traçada tristonha

Ou realidade medonha?


Delineada com cores,

Há insídia sem rigores.

Olhos cerrados em dor,

Será abandono do amor?



Nossa sugestão musical: Mudar de vida- António Variações


🍀🍁🍀


2025/08/16

Edvard Munch Entre Nós

O Grito - 1893

No céu flamejante, a dor ecoou,
um grito sem voz, o mundo calou.
A ponte sombria, o medo a correr,
um vulto curvado, horror a crescer.

Cenário chocante, cores ardentes,
Edvard o pintou em traços dolentes.
O medo é um eco, um céu a gritar,
no turvo infinito do eterno penar.

Ó sombra aflita bradando do além,
será tua angústia reflexo de alguém?
Ou somos no fundo na nossa ilusão,
um grito calado dentro da multidão.


 O Grito 

No desespero inusitado, EDVARD,
Como um ser sufocado, alucinado, 
Abismado, sofreu, fugiu apavorado, 
Situação angustiante, amedrontado.

Pasmou-se, espantou-se, incrível 
Viver num mundo nada amável… 
Outros seguem seu rumo normal,
Acomodam-se numa vida banal. 

Ruído estridente solta, se liberta
De amarras presas, tão deserta. 
Como liberto, seu livre percurso
Vice não mais com falso discurso.

Ocorreu-lhe uma boa ideia, mudar,
A fim de poder retornar, voltar a ter 
Tudo o deixado atrás, vai renunciar,
Resolve vivenciar, enfim, só viver…
Viva, enfim, 
                              EDVARD!





😱😱😱

2025/08/08

Paul Guy Gantner Entre Nós

"Passarela em Flor"


 Passarela em Flor

Suave pintura a trilha em aguarela,
cada flor sussurra o nome do dia.
A luz escorre por entre a janela
do céu, a paisagem vira poesia.

Flor do campo, livre, sem medida,
nasce onde o vento decide ficar.
Não pede nada, só oferece vida,
onde cada cor vem nos abraçar.

A passarela em flor abre-se inteira,
não leva a um fim, apenas ao agora.
Caminho certo, sem qualquer barreira.

O perfume daquele instante o decora,
nesse tempo sem pressa ou fronteira.
Só existe silêncio, e a beleza, aflora.



Flor do Campo 


Singela, formosa, simples, natural,
Longe de ser uma mera flor banal.
É uma medição da criação divinal,
Intermediária do jardim fenomenal. 
Paul é jardineiro primoroso e fiel.

De todas as mimosas, a escolhida 
Uma espécie tão estimada,  querida.
Confesso,  é a minha flor preferida,
Dá uma sensação de ser acolhida. 
Paul é jardineiro amoroso menestrel.

Ó flor do Campo, minha predileção 
Dentre todas as do meu coração. 
No vergel do meu viver, é  emoção 
Raridade multicolorida em sensação. 
Paul é jardineiro, das flores bacharel.

Quisera a sua simplicidade,  humildade
Exalasse o mais doce perfume: lealdade
Em ternura e apreço sem grande preço,
Pequeninas ternuras de grande talento.
Paul é jardineiro, protege-a tal coronel. 


"É JUNTO ÀS FLORES DO CAMPO QUE A BELEZA EM TODO SEU ESPLENDOR SE REFLETE  NOS OLHOS ENCANTADOS DA  VIDA."
Edna Frigato

🌸🌺🌼


Nossa sugestão musical: Flor de Laranjeira-Beraderos


2025/07/31

Monet Entre Nós - LANÇAMENTO DO LIVRO NOVO

Íris no Jardim de Monet

No Jardim de Monet

Entre íris dançando ao vento,
  respiro um instante sem tempo,
 o mundo em mim se refaz
desenhado em tons de lilás.

Na terra, a lida me chama,
sua cor me eleva, inflama.
Já não sou quem lavra o chão,
sou traço, semente, visão.

No jardim onde Monet pintava,
minha alma livre sonhava.
Em cada pincelada sentia,
 a vida muito me daria.

Oh! flor rompendo o cansaço,
pintura embalando o espaço.
Teu silêncio me ensina a ver,
 viver é florescer.

Sou mulher de mãos ofertadas,
ao tempo, às cores, às jornadas.
Nos campos que a arte me deu,
renasço, inteira, sou eu.

Antecipo a  P M A R A!

Carregando minha lida diária,
Sentida deveras, sem delongas,
Caminho de passo em passo...
Eis surgiu o grandioso Monet!

Sua arte sempre tão marcante,
Desde bem outrora consentida,
Dá todo sentido à minha vida,
Faz-me muito mais confiante.

Nasceu-me uma alma bem nova,
Pintar sempre me inova, renova,
Exulto, canto, toda comunhão,
Feliz, exulta pleno meu coração.

Entre lindos floridos prados, 
Aconteceu a minha inovação,
Ao arado, ofereço meus sonhos,
Sou uma mulher em renovação.





Vestimo-nos de gala, novo livro, novo ânimo,
Fernanda, Rosélia dão-se as mãos, são arrimo.
Elegância nas vestes, rigor nos poemas belos,
Unimo-nos com firmeza, somos autênticos elos.
(Rosélia Bezerra)

🩵​🧡​


25 DE Julho- Dia do Escritor no Brasil. 
📖​🖋️​📖​

Lançamos nosso sexto livro, entre percalços do ofício, conseguimos.

A cada livro, contamos com o Prefácio de um (a) amigo (a).

A Amiga que nos deu a honra de prefaciar nossa quinta obra foi a escritora e poeta Emília Simões incentivadora dos primeiros  dos nossos poemas na parceria tão fecunda que já mantemos por mais de três anos,  na alegria e nas dores nossas de cada dia.

O livro compila poemas publicados no blog e outros inéditos.

Publicamos além do Brasil, em Portugal, na Espanha e na Austrália.


Livro Publicado em Portugal



Livro publicado no Brasil






2025/07/24

A Amiga Certa ~~ Dia do Amigo ~~

 A Amiga Certa

No meio de tantos rostos, caminhos,
Chegou sem pressa, com jeitinho.
Com riso leve e alma descoberta,
mostrando ser — a Amiga Certa.

Não foi só nos risos, me encontrou
 nas lágrimas… me transformou.
Com um olhar, entende sem dizer,
ela soube me acolher, fortalecer.

Amiga é mais do que estar perto,
é saber tempo, tom, gesto certo.
Sem dúvidas, com toda certeza,
ela faz da minha vida, pura beleza.

Sorte a minha cruzar seu caminho,
ter seu colo, seu riso, seu carinho.
Se me perguntarem se me completa,
direi sem pensar: é ela, a Amiga Certa.




Românticas são bordadeiras,
Bordam com afetos nobres.
Com agulhas, linhas coloridas,
Traduzem dolorosos sentires.

Ponto por ponto, com cautela, 
Põem assuntos diários na tela.
Amigas de alma não só bordam, 
Amenizam dores, as empanam.

Cores sóbrias muito consolam,
Tons pastéis alegram, suavizam.
Esperando melhores momentos, 
Chegarão aos matizados tempos.

Alcançam logo a paz almejada,
Tecer em panos traz felicidade.
Alcançam logo tal serenidade,
Mesmo sem ela ser planejada. 


Amigas de Alma são as Amigas Certas…



💚💛

20 de Julho- Dia do Amigo. 



Imagens: Pinterest

***

2025/07/19

Timothy Martin Entre Nós

(pintura sem título)
 

Doce colheita

Entre folhas douradas
e murmúrios da videira,
surge ela
  —
com a graça serena dum entardecer antigo.

Vestida de vermelho como o vinho antes do tempo,
carrega uvas nas mãos
como quem segura segredos
doces, intensos, maduros.

Seus olhos,
meio voltados para quem a vê,
não perguntam, não respondem 

mas sabem.

O cabelo,
preso em espirais cuidadosas,
guarda promessas de outonos passados
e primaveras por vir.

O braço, adornado por uma folha viva,
é abraço entre o humano e o fruto,
entre a arte e o instante,
entre a lembrança e o agora.

Na parede cálida,
as sombras das uvas conversam com a luz,
 tudo ali parece eterno,
como se o tempo se tivesse rendido à beleza da pintura.

Convite Irrecusável 


Um sabor inusitado em meu seio cobiçado,

um olhar de ternura e sensualidade de laço.

Há gosto de doçura em dulcíssimo cacho,

fruto maduro, delicioso.  Vulgar, despacho.

Timothy seduz com seu olhar de pintor.


O convite implica respeito e delicadeza,

toda amabilidade com amável sutileza.

Aceitar inusitado paladar da boa união,

desfrutar da lealdade e da cumplicidade.

Timothy traduz seu olhar de pintor.


Recusar o superficial, tolo aproveitador

da colheita madura, doce, aromatizada.

Preço a se pagar é afinidade desejada,

sem multa, pela traição do belo amor.

Timothy induz seu olhar de pintor.


Vale a pena saber plantar em profusão,

a colheita será bela e encherá o coração.

Serão ambos, tanto provedor e colhedor

o elo de delícias no enlace de bom odor.

Timothy faz jus ao seu olhar de pintor.



Nossa sugestão musical :Fascinação- Elis Regina


🌙🌟