Vejo-as espreitar
pelas folhas gastas dum livro de poesia.
Tento apanhá-las,
Agora sim apanhei-vos,
pois no coração as palavras ficam cativas para sempre.
Mas estas são diferentes
desceram até ao ventre
não têm salvação.
Às vezes,
saio de mim,
entro noutra realidade,
como se estivesse num rio,
ou num riacho,
nalguma cachoeira,
talvez num lago,
quiçá numa gruta de paz,
numa caverna insondável
de mistérios coloridos,
como a visão de um arco-íris,
borboletas ao redor
em belos jardins
primaveris.
Às vezes,
saio de mim,
habito outra órbita,
contemplo estrelinhas,
douradas, cintilantes,
águas dum lago
não geladas,
morninhas, cálidas,
numa quimera de amor,
sem correnteza forte,
como bruma de espuma,
com fiapos de raios solares
por entre o breu da floresta
encantada.
Às vezes,
percorro estradas,
com neve,
pelas montanhas nos alpes,
subo trilhas,
chego ao cume,
tenho visão deslumbrante,
casas com lareira,
árvores invernais,
folhas secas,
com vestígios de caramelo,
lareiras acesas,
chaminés fumegando.
Às vezes,
sou a chama da fogueira,
O vento, a chuva fina,
o temporal,
a torre de uma igreja
com um sininho,
desde o nascente
ao poente,
uma ovelha do rebanho,
com vontade de me deitar,
dormir um sono longo de paz,
sem palavra alguma,
no paraíso terrestre,
acordar ternamente.