2022/12/03

Ela, ao Entorno


Era um lugar igual a tantos outros onde nada acontecia. Ou se acontecia não se dizia. 
A velha casa era isolada. O quarto ermo e frio.
Apenas se ouvia o barulho forte do vento que rugia.
Entrou nele uma mulher. 
Longos cabelos negros, rosto anguloso, olhos cor de mel como os dos felinos. 
O seu corpo esculpido a bisturi.
O seu nome, Celina. A sua paixão, seduzir. 
Tinham-lhe falado na magia daquele lugar e daquele quarto onde os amores não aconteciam. 
Olhou entorno e escolheu-o. 
Mandou-o limpar, seria o seu covil. 
Não tinha dono. Era livre. 
Vinha para ali endeusar-se e seduzir.
Nada mais dava e nada mais exigia.
Todos os dias aumentava o seu séquito de admiradores e de inimigos sedentos do seu poder de mulher livre, selvagem e inacessível.
Quem perscrutasse as imediações podia ver outros olhos raivosos, à espera … 
Naquele dia juntaram as forças e a maldade e decidiram o destino de Celina.
Não aceitavam que naquela cidade onde nada acontecia vivesse uma mulher assim, feiticeira.
Frios, calculistas, sedentos do seu sangue de sedutora, incendiaram lhe a casa.
Vinte anos depois o quarto continua forrado a cinzas. 
Mal sabem que Celina _ corre livre pela selva.
 





Ela, ao Entorno

Ela tem magia, se veste de azul alegria,
Não se intimida, continua a buscar,
Mesmo sem ter energia.

Olha ao entorno, ela tudo vê, lê e crê,
Tudo parece igual, mas o desigual
Ela assim percebe, concebe.

Tenta ver algo de novo, Ela atenta,
Contempla detalhes, em busca,
Reconhece-se uma detenta.

Com Ela, vêm ao redor as belezas,
Vira-se encantada, admirada,
Não deseja realezas.


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Aviso aos amigos do blog:
Nossos poemas não estão para serem eleitos.
Somos amigas irmãs e não estamos competindo
Pedimos a gentileza de não mencionarem uma e não a outra.
Muito agradecemos.


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Nossa sugestão musical : She - Elvis Costello


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