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'Casa em Jaffa' de Heba Mohamad |
Casa em Jaffa
Há uma porta azul no coração do dia,
meio aberta, como quem diz: pode entrar,
sem pressa, sem senha, sem guia,
a sombra e o jasmim já fizeram seu lugar.
No limiar, vasos antigos ensinam,
guardam segredos de outras manhãs.
As buganvílias do alto se inclinam,
abrem-se em flores como duas irmãs.
O tempo ali não sabe de urgência,
vive entre mosaicos, memórias, clamor.
Cada pedra guarda uma ausência,
uma perda, mas também um eco de amor.
Quem passa por Jaffa, por essa fachada
leva no olhar o azul da esperança,
e no caminho vem de alma aliviada,
como quem volta à casa da infância.
Há porta entreaberta,
Esperança descoberta.
Uma tentativa não vã,
Dias viçosos virão, crê
Heba na tela aquarela.
O perfume é coberta,
O amor os acoberta.
Há o sigilo num divã.
Só cego recusa, não vê
Heba na tela aquarela.
A casa é bem propensa
À paixão bem intensa.
Há flores na entrada,
Dentro, a bem-amada,
Heba, na tela aquarela.
Onde mora a ternura?
Sei bem do endereço.
Não há sinal de usura,
Nem amor de adereço,
Heba, na tela aquarela.

🏠🏠🏠