O Fado
No quarto pobre, paredes gastas,
ecoam cordas, choram baixinho,
canta o homem, a alma arrasta,
a guitarra reflete o seu caminho.
Ela rendida, afasta o cansaço,
olhar perdido, a dor a seduz,
corpo inclinado sem embaraço,
livre da sombra vinda da luz.
Não há riqueza, não há vaidade,
só vinho, canto, vida sofrida,
no fado existe toda a verdade,
da dor humana, nua, sentida.
Malhoa pintou com cores do povo,
tinta de lágrimas, drama, clamor,
o fado é eterno, antigo e novo,
pincel de mágoa, guitarra e amor.

Escutar toda a saudade do fado,
mesmo estando presente o amado.
Aliviar penas, ouvir dissabores,
eliminar decepções, malmequeres.
Cantar toda a dor da alma, criar
momento de ternura, incentivar.
Imbuir-se do espírito melancólico
sem cair num âmbito diabólico.
Escapar da rotina tão enfadonha,
Malhoa atenua a relação tristonha.
Avançam na alegria devagarzinho,
abolir a fatalidade do ser sozinho.
Ser fadista é dom sem desatino,
viver a vida, aceitar o destino.
A profecia discreta, saudosista,
bom oráculo até o amor persista.
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